Estávamos em uma escola, em mais um daqueles momentos em que estamos prontas para começar uma palestra, só aguardando a organização final da equipe local. Aproveito sempre para olhar o contexto. Murais, avisos, disposição dos móveis, tudo fala um pouco sobre o tipo de comunicação que a escola mantém com os pais.

Desta vez estávamos, Taís e eu, em uma escola da rede estadual. Infelizmente, uma oportunidade rara para nós. Ainda temos um número extremamente maior de pedidos de palestra advindos de escolas privadas. Sonho com um dia em que nossa agenda se divida entre todas as redes: privada, municipal e estadual.
Voltando ao cenário: um cartaz me chamou a atenção. Embora eu não me recorde exatamente do texto, desde aquele dia durmo e acordo incomodada com o que li. Era uma mensagem alertando contra o bullying. Nota 10 para a iniciativa, mas algo me diz que a mensagem era tão genérica que não vai atingir como deveria nem a pais, tampouco aos alunos.
Desde então, não há um só dia em que esse assunto não me volte ao pensamento. Eis que, finalmente encontrei o fio da meada ali, perdido entre meus queridos neurônios.
Com tantas campanhas de alerta para e feita por pais, alunos, educadores, porque não vemos resultado? Mais que isso, a luz que de repente se acendeu iluminou um caminho de volta aos meus anos de escola. Conto sempre nas palestras sobre minha entrada na escola e depois faço um salto para minha graduação e especialização. Essa luzinha que encontrei lá dentro das minhas memórias iluminou toda uma estrada de anos e anos no ensino fundamental e médio.
E a questão que veio foi: por que não sofri bullying? Ou será que sofri? Afinal, convenhamos, meus passos são um tanto quanto fora do convencional ou daquilo a que as pessoas escolhem etiquetar como “normal”. Um tanto quanto diferente, digamos assim.
Sem medo do que iria encontrar, resolvi enfrentar as profundezas das minhas lembranças e não é que encontrei o vídeo tape de momentos que hoje se encaixariam perfeitamente na fila para receber o rótulo de bullying. Foram poucos, confesso. Não sei se foram poucos que enfrentei ou que salvei nos meus arquivos, mas sim, poucos.
Será que foram de baixa intensidade na minha própria versão da escala Richter e por isso estavam esquecidos? Ou talvez tenham sido tão impactantes que eu mesma tenha sido cúmplice do momento em que foram cuidadosamente escondidos de mim mesma? Penso, penso e acabo por me lembrar de mais alguns.
Será que tive sorte? Pergunto a mim mesma, pois cruzei somente com pessoas tão maravilhosas, que, a propósito, fazem parte de minha vida até hoje… Ou será que minha escola proibia o bullying e as crianças naquela época simplesmente obedeciam?
Não, está fraca demais essa linha de pensamento! Afinal, havia a rua de casa. E os vizinhos. Os colegas de outros círculos. As pessoas estranhas de lugares diferentes.
Até que junto as diferentes linhas de pensamento em uma sequência lógica: sim, consigo me lembrar de algumas situações meio chatas. Não, a lembrança não machuca. Nem a dos momentos do bullying, tampouco a dos momentos que vieram na sequência.
Nunca quis parar de ir na escola. Nunca chorei porque riram de mim. Nunca quis devolver o sentimento de “sou diferente”, fazendo bullying com outras crianças ou adolescentes. Nunca soube que meus pais ou irmãos tenham ido na casa de alguém ou na diretoria da escola cobrar respeito ou pena de mim, como se eu não fosse mesmo capaz.
Nenhum julgamento a quem já o fez. Simplesmente um relato. Posso sim imaginar a dor de pais que têm seus filhos humilhados por seres humanos infelizes e mal resolvidos.
E, no meio de tantas lembranças, eis que encontrei o segredo. Estava em mim a diferença: eu nunca me achei menos capaz. Embora soubesse das minhas limitações e tivesse muitas vezes sonhado em como seria minha vida se pudesse correr, andar de salto, dançar por aí, nunca, jamais, tive algum sentimento de inferioridade ou incapacidade.
Foi isso: ao invés de investir o tempo e esforço tentando lutar contra a visão – ou falta dela – das outras pessoas, meus pais e minha família me vacinaram contra o que hoje conhecemos como bullying.
Não, eles não tinham uma cartilha sobre como fazer isso. Certamente não tinham a menor consciência do que estavam fazendo. O que dá ainda mais valor à proeza que conseguiram: eu nunca me achei inferior. Nem mesmo quando me faltaram, em algumas situações, os recursos para ir até o final.
Agora, pensando nisso, faz tanto sentido! Você, pai, mãe, responsável, não vai conseguir proteger seu filho do mundo. Mas você pode blindá-lo de forma tão eficaz que nenhum bullying será forte o suficiente para abalar suas forças ou destruir seus sonhos.
Hoje, mãe, adulta, educadora e, principalmente, tendo o privilégio de conhecer em primeira mão as recentes descobertas da neurociência cognitiva, afirmo com a mais absoluta certeza: há uma vacina contra o bullying. Eu tive o privilégio de receber doses eficazes ao longo da minha infância e adolescência.
A vacina contra o bullying tem nome e sobrenome: auto estima em grau elevado.
Essa vacina tem efeito pleno com algumas indicações:
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Tem que ser aplicada pela família desde a primeira infância;
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As doses precisam ser aplicadas em gotas, suavemente, ao longo do convívio em casa;
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Algumas doses vão requerer que os pais sejam firmes, sem demonstrar pena pela luta que é do filho;
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Palavras serão fundamentais, mas as atitudes é que realmente intensificarão o resultado.
Sim, há uma contraindicação: em caso de doses altas demais ou aplicadas de forma incoerente, os filhos desenvolvem uma doença chamada arrogância. Por aplicação incoerente, entenda-se “elogiar o filho sem que ele tenha consciência de que realmente fez algo que beneficia a si próprio e a outros membros da família.”
Para indicações sobre como elogiar de forma que a auto estima seja reforçada e aumentada, sugerimos esse vídeo aqui.
A escola pode, e tem como dever ajudar a combater o bullying. Será sempre, porém, uma luta inglória: tentar salvar aqueles que já estão no mar, agonizando. Ainda que seja bem sucedida, as memórias do quase afogamento permanecerão e trarão consequências para o resto da vida. A criança que chega na escola com baixa auto estima será sempre uma vítima fácil para o bullying!
Para erradicar esse mal, não há outro caminho senão família e escola, juntas!
Existe uma vacina que pode imunizar seu filho contra o bullying…
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