Precisamos cuidar daquilo que falamos, para não transferir aos nossos filhos mensagens que limitam a capacidade de superação que precisa ser estimulada.
Mesmo o ser humano mais zen que você puder imaginar está no limite da sua capacidade de lidar com a ansiedade. São muitos dias vivendo dentro de um cenário que lembra um filme de ficção científica. E isso gera uma grande insegurança em relação ao futuro. Mas precisamos lembrar que nossos filhos processam toda essa situação a partir do nosso olhar e, especialmente, das nossas palavras. Por maior que seja o desafio que você vem enfrentando, essa fase vai passar. E dias melhores virão. Nós, adultos, vamos retomar a profissão, começar um novo empreendimento, seguir com o trabalho, mudar a rota da vida pessoal, recolocar as finanças no trilho. Nossos filhos, porém, não vão retomar de onde pararam. Eles terão um novo começo.
Quando saírem novamente para a escola, eles vão levar a memória repleta de informações que estão registrando a cada dia. A imagem que nossas crianças e adolescentes têm de si mesmos é muito impactada pelas relações que eles vivem. Por esse período já tão longo, as relações estão restritas a poucas pessoas.
“Meu filho não tem jeito para isso de fazer aula online”
Reconhecer o desafio que seu filho vem enfrentando é ótimo. Achar que seu filho não consegue vencer esse desafio já é outra coisa, totalmente diferente.
Toda mudança repentina gera resistência, medo, insegurança. Vencer esses sentimentos que paralisam traz benefícios que impactam de forma positiva a autoestima e a crença sobre nossas próprias capacidades de reagir em situações desafiadoras.
É verdade que seu filho não nasceu para “esse negócio de fazer aula a distância.”. Nem ele e nem as outras crianças ou adolescentes. E também não é isso que a escola e os professores gostariam de oferecer a ele. É verdade que estar presente com os colegas da sala e a professora é muito melhor, mas não é uma realidade possível agora e nos próximos meses. A fase do susto, do novo e inesperado passou. É hora de assumir que será assim por mais um bom tempo e fazer os ajustes necessários para que seu filho descubra que consegue sim. Se você tem criança em fase de educação infantil, realmente aula online não se aplica. Mas a partir do Ensino Fundamental, interagir com os colegas, tirar dúvidas com a professora, assistir à explicação do conteúdo, falar sobre o que está conseguindo fazer, tudo isso pode ser feito online com um pouco de esforço. Continua a valer o pressuposto em relação ao equilíbrio no tempo. Ficar horas na tela é cansativo e prejudicial a todos: alunos e professores. Mas fazer uso do privilégio de ter um equipamento, acesso à Internet, professor fazendo seu melhor é um hábito que seu filho consegue sim desenvolver. Logo tudo isso vai passar. E as telas vão ficar como uma excelente opção de apoio para o aprendizado. As aulas presenciais vão voltar, mas a tecnologia como parte do ensino vai ficar. Seu filho consegue sim aprender online. Ele precisa aprender a se orgulhar das pequenas conquistas diárias!
“Meu filho não consegue usar máscara”
Pode ser verdade que seu filho ainda não sabe usar a máscara. Assim como grande parte dos adultos não sabia também. Mas teremos todos que aprender. Não é o que gostaríamos, mas é assim que vai ser por um bom tempo. Não é uma opção. É uma adaptação que precisamos fazer para a vida, literalmente. Precisamos ajudar nossos filhos a se adaptarem a esse novo normal.
Seu filho vai sempre corresponder à expectativa que for colocada. Se você disser que ele não consegue, só vai prolongar a fase de adaptação.
Pense numa criança que cresceu em uma tribo distante da Austrália, por exemplo e de repente muda para uma cidade grande e fria. Ela vai precisar se adaptar usar meias, tênis, gorro e cachecol. Ela é capaz de se acostumar com essa mudança? Sim, apesar do desconforto inicial que ela vai sentir, em pouco tempo ela estará habituada.
Em alguns países da Ásia, o uso de máscaras por crianças já vinha sendo incorporado há algum tempo. Exceto pela cultura, não há diferença entre uma criança brasileira e uma criança chinesa, por exemplo, que explique o fato de uma delas “conseguir” usar máscara e a outra não.
Pelo bem de nossas crianças e adolescentes, vamos reformular esse pensamento e a fala de que nossos filhos não conseguem usar a máscara. Seu filho vai precisar usar a máscara em diversas ocasiões e ele precisa acreditar que consegue sim fazer isso. Quanto mais famílias seguirem essa regra, mais seguros estaremos todos nós.
As restrições que seu filho possa ter por questões de saúde precisam ser tratadas com um pediatra que o acompanhe, assim como no caso de crianças com qualquer necessidade especial. Para crianças até 2 anos, o uso de máscara não é recomendado.
A Sociedade Brasileira de Pediatria publicou uma nota de alerta, que traz informações valiosas e vale a leitura. A nota está no: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22543e-NA_-_O_uso_mascaras_faciais_em_COVID19_por_crc_e_adl__1_.pdf.
“Meu filho não aprendeu nada este ano. Já considero um ano perdido.”
Com o coração apertado pelo medo de como isso tudo que não foi assimilado vai impactar o futuro, pensamos que seria melhor encerrar o ano letivo o quanto antes.
Porém, ao longo dos últimos meses, você não trabalhou como teria trabalhado se não houvesse a quarentena. Você não dormiu como teria dormido. Não viveu nenhum aspecto da sua vida como teria vivido. E por que será que mantemos o parâmetro em relação ao aprendizado no mesmo patamar que estaria se o ano estivesse correndo normalmente? Porque desejamos o melhor para nossos filhos. Mas, se desejamos o melhor, como considerar este ano “perdido” ajuda? Talvez pela ilusão de que não seguiriam para o próximo ano com defasagem de conteúdo. Mas a realidade é que estudar é como fazer ginástica. Quanto mais você pratica, mais mantém os músculos fortes e saudáveis. Mas quando você para, quanto mais o tempo passa, mais você perde os ganhos que teve. Pense nisso em relação à aprendizagem do seu filho. Garantir que seu filho não tenha perdas em relação ao que já havia aprendido é uma enorme conquista. T
ente manter o foco em aspectos mais importantes do que o conteúdo, que pode ser recuperado:
1 – que ele saiba que a pandemia afetou muitos aspectos da vida de vocês, mas não conseguiu tirar dele o direito de ser um estudante.
2 – Estudar é um hábito que se domina estudando.
3 – Se ele desenvolveu alguma habilidade ou competência que não tinha, ele aprendeu.
4 – Nem todo aprendizado é imediatamente transferível para o papel. As conexões que seu filho está fazendo agora não podem ser mensuradas, mas podem ser estimuladas pelo contato com as aulas, as atividades e com a professora.
Acredite, há mais aprendizado no esforço que seu filho coloca todos os dias para fazer uma atividade do que na resposta correta em uma prova.
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