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Taís e Roberta Bento

As dores e as delícias de educar filhos na Era das Telinhas.

Vivemos em um constante tsunami de informações. A cada onda que passa, ficam dúvidas, medos, incertezas. E vamos tentando educar nossos filhos enquanto ainda estamos aprendendo a lidar com tantas variáveis sobre as quais nosso controle é cada vez mais questionável. Como tudo que é novo traz insegurança, vivemos em constante estresse quando o assunto é educação dos filhos e os impactos das telinhas nesse processo. A receita perfeita não existe. A garantia de que se você fizer isso, o resultado será aquilo também não. Mas uma certeza podemos ter: a tecnologia estará cada vez mais disponível e será parte da vida de nossos filhos, seja lá qual for nossa opinião em relação a isso. Cabe a nós entender como as diversas telinhas podem se tornar aliadas e quando se tornam prejudiciais. Mais que isso, vamos lá olhar juntos para as alternativas que temos na busca de uma educação que prepara para o mundo real, tirando o melhor proveito dos recursos digitais. Na teoria, todos sabemos o segredo: equilíbrio. Mas o que isso significa na prática? Leitura e escrita perdem espaço ou ganham importância? TV, tablet, celular, computador, videogame e a grande atração que gera em nossos filhos.


Por que relutamos tanto em ouvir nosso bom senso de responsáveis e colocar o tempo de tela na proporção que merece? Relutamos em ser firmes na hora de estabelecer regras em relação ao tempo de tela por diversos motivos. Insegurança. Receio de frustrar nossos filhos. Estresse gerado pelo constante cabo de guerra entre o tédio do mundo real e os estímulos do mundo virtual.. Ao flexibilizar demais todas as regras e os valores que fazem parte da pessoa que você é, fica um enorme vazio dentro do peito. O ponto mais confiável no qual você pode buscar o equilíbrio está na resposta a uma pergunta: que valores você quer passar para seu filho? Precisamos assumir que sem enfrentar momentos de frustração agora, nossos filhos não terão ferramentas para ser feliz no futuro. Será que deixar seu filho bravo, triste ou frustrado porque está na hora de se desconectar para viver o mundo real é mais difícil para ele ou para nós, adultos? Ou será que a telinha está se tornando cada vez mais o calmante que esconde os reais problemas que vocês precisam encarar juntos? Pense. Sem medo de encontrar as respostas. Mas lembre-se de que o remédio e o veneno muitas vezes têm como única diferença a dose. Nenhuma tela por si só é prejudicial. Além do equilíbrio no tempo de exposição, é preciso equilíbrio no uso que nossos filhos fazem das telinhas. Uma receita simples, capaz de ajudar no tão sonhado equilíbrio: usar as telinhas para ajudar na criação do hábito da leitura. Combine com seu filho uma proporção de tempo online e off-line. E no tempo desconectado, ele pode usar a tela para ler. Baixe junto com ele livros e materiais que vocês possam explorar juntos. E faça da leitura um mecanismo de troca por tempo online. Isso não elimina a necessidade de regras quanto ao tempo de tela, mas acrescenta um uso que pode aproximar você de seu filho e seu filho dos estudos: o hábito da leitura! As diversas telinhas disponíveis hoje em dia permitem que nossas crianças cresçam sem enfrentar barreiras de espaço e tempo. Isso pode ser bom ou ruim. Depende de nós, responsáveis. Lembra de como você esperava ansiosa/o por seu desenho favorito na TV? E de quando era preciso combinar horário para falar com um familiar que morava longe, porque só existia telefone fixo? Todas essas atividades eram escolhas que fazíamos, sem perceber. Para cada escolha, uma renúncia. Ou almoçávamos, ou assistíamos à tv. Ou saíamos com amigos, ou ficávamos em casa ouvindo música. Tempo e local eram sempre escolhas que tínhamos que fazer. Hoje, nossos filhos nascem e crescem sem a mínima noção de restrição: é sempre isso e mais aquilo. Assistem aos seus desenhos favoritos na sala, na cozinha, no carro, na mesa do restaurante, a qualquer horário. O poder de eliminar barreiras de tempo e espaço somente serão vantagens se conseguirmos ensinar a nossos filhos que a vida no mundo real continua a ser feita de escolhas. Seu filho não aprenderá a ler e escrever se não conseguir focar nessas atividades, só nelas, sem outros estímulos simultâneos. Os relacionamentos com colegas e familiares vai gerar frustrações enormes se nossas crianças não aprenderem a olhar nos olhos da pessoa com quem interagem. Esperar um prato chegar à mesa, percebendo o tempo que isso leva é aprendizado para a vida. Olhar pela janela do carro no trajeto para a escola é preparação para ler, escrever, contar. Sim, é possível aproveitar o melhor do mundo digital e ainda assim ser capaz de conviver em sociedade e ser feliz. Mas isso depende mais de nós, responsáveis, do que de nossos filhos. A consciência de que existem dois mundos e de que precisamos aprender a transitar entre eles é nossa. A responsabilidade por educar pessoas capazes de abrir mão, fazer opções, priorizar é nossa. Seu maior aliado nessa missão nada fácil é a leitura. Leia com seu filho. Leiam juntos. E não é preciso fazer opção: leiam livros de papel e livros digitais, mas leiam! Nenhuma telinha tem poder maior do que a família quando se trata de influenciar o comportamento dos filhos para a convivência no mundo real. É uma missão quase impossível controlar tudo a que nossos filhos têm acesso. Mas é extremamente necessário assumir que ainda somos nós, os pais, os responsáveis por educar essas crianças e adolescentes. Isso significa que não adianta esperar que alguém controle tudo o que está sendo publicado nesse mundo sem dono que é a Internet. Conseguir adiar ao máximo a idade com que seu filho terá acesso às telinhas sozinho é o ideal. E esse máximo vai depender de vários fatores que são diferentes em cada família. Porém, há um ponto que precisamos acordar e manter sempre alerta em nossa mente e coração: o poder da família é sempre maior, imensamente maior do que o das telinhas. Só há comportamento negativo ou violento que é repetido nas relações com a família ou na escola se faltar o equilíbrio na hora de educar em casa. Justificar mordidas, socos, brigas, palavrões e falta de respeito com mal exemplo de algo que seu filho assiste na tv, Youtube ou em qualquer plataforma é um erro. Se o exemplo negativo está gerando impacto tão grande no seu filho, passou da hora de rever a rotina, estabelecer regras e fazer cumprir o que for combinado. Precisa tirar as telas da vida do seu filho? Não, mas precisa colocar como prioridade ensinar a conviver no mundo real. E para ensinar a separar o que é bom e o que não serve,. precisa assistir junto. Precisa usar as telas com o todo o potencial que elas trazem. Por que as crianças e adolescentes só pensam no verbo “assistir” quando encontram uma tela? Porque faltou criar o hábito de ler usando também essa ferramenta. E adivinha quem tem o superpoder de mostrar essa outra face das telinhas? Sim, essa pessoa que está lendo este texto agora mesmo!

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