Não é o desafio de ter os filhos estudando em casa que está esgotando suas energias. Tentar eliminar esse aspecto do dia a dia da família não vai tornar seus dias melhores.
Enquanto mães e pais mostram sinais de estarem chegando ao seu limite, os filhos seguem tentando provar que não nasceram para estudar em casa. E os pais se desesperam, quanto mais tentam puxar para eles responsabilidades que precisam ser compartilhadas. Quanto mais você tenta ser o professor, mais você fica esgotado e menos energia sobra para fazer seu papel de pai/mãe. Quanto mais você tenta entender o que a professora está explicando, menos seu filho assume o papel de aluno, já que você está fazendo isso por ele. Cada vez mais e mais mães e pais começam a questionar se vale a pena continuar com tanto esforço. Ou se não seria melhor deixar para a escola cuidar do processo de aprendizagem de seus filhos no ano que vem. Sim, todos gostaríamos de ver nossos filhos entendendo tudo, sabendo responder todas as questões, escrevendo e lendo de forma fluente. Mas o que presenciamos em casa todos os dias é totalmente oposto ao que sonhamos. Além da angústia pelo que vemos, há o receio sobre o prejuízo que nossos filhos levarão para os próximos anos da vida escolar. Dúvidas para as quais não há resposta definitiva.
Se em tempos normais tentar prever o futuro já consumia energia necessária para viver bem o presente, imagina o estrago que essa tentativa causa hoje, em tempos de pura incerteza. Vamos por partes, dividindo os papéis para dar conta do que é seu, pai/mãe.
Se ajustarmos os pontos sobre os quais temos controle, já estaremos fazendo o suficiente para seguir a caminhada com mais leveza.
“Estou sem paciência para acompanhar o ensino a distância. Cheguei no meu limite! Não nasci pra isso, estou cansada demais com tanta coisa acontecendo e vendo meu filho sem conseguir aprender. Não vai adiantar seguir com esse ano letivo assim!”
Não é a aula a distância que está estressando você.
A prova disso é a grande angústia que vivem as famílias de escolas públicas, que ainda não receberam aulas ou atividades até o momento. Ou aquelas que recebem atividade impressas, no caso de escolas que se organizam para os pais retirarem o material a cada mês. A sensação de estar no limite em relação às aulas online vem do acúmulo de funções que não são suas. Se a professora está falando muito rápido, muito baixo, falando inglês que você não entende, isso tudo não é com você. É com seu filho. Lembra quando ele ia para a escola e você cuidava de garantir que ele cumprisse o horário, respeitasse a professora, fizesse a lição de casa? Seu papel continua sendo esse mesmo! Medir se o seu filho está entendendo o que a professora fala, quanto está aprendendo, definir (em pleno junho) se ele passa ou não de ano, isso não é seu, mãe/pai. Enquanto você tem suas energias exauridas com esses assuntos, seu filho segue perdido, sem conseguir fazer o papel de aluno. Seu papel segue sendo o de responsável. Aluno é seu filho. Professora é quem dá a aula e responde as dúvidas sobre a matéria que seu filho não entendeu. É, sim, chato para uma criança do Ensino Fundamental ter que estudar em casa. Mas é o que tem para hoje. E isso que parece tortura pode também ser visto como um enorme privilégio ao qual, infelizmente, a maior parte dos estudantes do nosso país não tem acesso. Hora de respirar fundo e devolver para cada um o papel que precisa exercer. Você fica sendo só o pai/mãe mesmo. Deixa que a professora e o aluno exerçam seus papéis. Vai ficar mais leve. E logo seu filho estará arrasando como estudante. Aprendendo o que conseguir, com o esforço que fizer!
“Meu filho de 8 anos não aceita as aulas remotas. Dá muito desespero ver seu filho não sabendo nada do que está sendo dado pela professora. As atividades escritas e a lição de casa ele não quer fazer de jeito nenhum. O jeito é repetir esse ano em 2021.”
Não é só você que está sentindo toda essa angústia. O mesmo sufoco se repete em muitos lares a cada dia. Aos responsáveis cabe estabelecer um ritmo para que os filhos continuem a exercer o papel que é deles, de estudantes, e os pais possam ser os responsáveis, sem que isso esgote todas as suas energias. Esqueça o ano letivo. Pense na aula/atividade que seu filho tem para fazer ao longo desta semana. Na sexta feira, você pensa na próxima semana. É disso que seu filho precisa: um adulto responsável para guiar, lembrando que os passos quem dá é a criança. Lembre que seu filho também precisou de ajuda para se adaptar quando começou a frequentar a escola. Veja essa fase como um novo processo de adaptação. Seu filho precisa respeitar a professora nas aulas online, da mesma forma que deve respeitar pessoalmente. Coloque o momento do estudo como um inegociável na rotina. Sem brigas. Sem remorso. Sem culpa. Uma criança de 7, 8, 9 anos precisa de momentos de estudo todos os dias para não regredir no processo de alfabetização. Não o compare com outros colegas. Mantenha o foco em ajudar seu filho a entender que, mesmo sendo um desafio maior estudar sem ir para a escola, ele consegue se esforçar e aprender um pouquinho a mais todos os dias. Faça junto com ele a tabela da rotina diária, incluindo os momentos de estudo como o compromisso dele, assim como seu trabalho é compromisso seu. Ajude na lição de casa, como você ajudava quando ele ia para a escola. Façam juntos algo divertido depois que ele terminar. Seu filho precisa aprender a ser um aluno que tenta, que se esforça e que comemora as pequenas conquistas. Se ele não aprender isso agora, os próximos anos, mesmo que com aulas presenciais, serão muito difíceis para ele.
“Todo dia é choro, preguiça, dor no pé, dor na barriga. Estou no meu limite. Chega de escola aqui em casa!”
Tirar de uma criança do Ensino Fundamental a oportunidade de se manter ativa como estudante não é justo. Não é certo. Não ajuda em nada no desenvolvimento que seu filho precisa ter. Ter preguiça de estudar faz parte do papel de aluno que seu filho exerce. Não tem nada de novo ou anormal nisso. As crianças e adolescentes sempre tiveram preguiça de ir para a escola, de fazer a lição, de estudar para a prova. Ao invés de colocar tanta energia nesse aspecto, só reconhece para seu filho que você também tinha preguiça em alguns momentos. E lembra que daqui a pouco ele vai ter feito a lição ou assistido à aula e vai dar um orgulho de ter vencido aquela preguiça. Quanto à dor no pé, que pena. Não vai dar para brincar depois da aula. Vai ter que ficar o dia todo sentado quietinho até sarar. E para a barriga, assim que terminar a aula, se ainda estiver doendo, tem um remédio que é bem ruim, mas vai curar rapidinho. “Depois que terminar a lição você fala se ainda está doendo, tá filho?” Se não estiver doendo, podemos até fazer brigadeiro. E assim lá vai mais uma semana com cada um cumprindo seu papel e crescendo um pouquinho mais forte para enfrentar outros desafios que a vida ainda vai trazer. Enquanto isso, em algum lar logo aí perto da sua casa, uma criança corre pegar os únicos seis lápis de cor que tem para fazer a primeira atividade que a escola pública conseguiu enviar desde março. E todos respiram aliviados, pensando que o ano letivo do filho não está perdido. Enquanto houver oportunidade para que nossas crianças aprendam, há esperança de um futuro melhor para todos. Está difícil sim. Mas não estamos no limite. Só precisamos acertar o foco das nossas lentes e agradecer bênçãos. Conforme perdemos a perspectiva da realidade, esquecemos do quanto somos privilegiados. Seu filho consegue sim. Vai passar. E você vão ficar bem.
“Está muito difícil para minha filha. A professora dispara a falar, nem dá tempo para ela entender nada. Minha filha ainda está fazendo a atividade, a professora já tá corrigindo. É lógico que ela começa a conversar com as amigas no chat, né filha!”
Vamos fazer um combinado? Prometo que, se conseguir cumprir o que vamos nos comprometer em tentar aqui, você vai passar a se estressar menos, seu filho vai começar a se responsabilizar mais pelos estudos. E precisa colocar em prática ao longo de pelo menos uma semana. É um esforço que vale a pena, pois vai tornar mais leve todas as semanas seguintes. E vai ajudar para que você não gaste mais sua energia tentando definir este e o próximo ano letivo. Além disso, você vai reabastecer toda a sua força ao ver que, de repente, esse estresse todo com as aulas online vai diminuindo. E fica só aquilo que não tem como tirar de você: o cuidado com as lições, o estímulo para seu filho seguir tentando dar o melhor de si e acreditando que ele só precisa se esforçar. Não é preciso ser melhor do que ninguém. Só focar em aproveitar o que puder e aprender um pouquinho a mais a cada dia. Para que esse milagre aconteça, tem um ajuste que muda tudo para melhor: tirar nosso foco da aula, da professora, do ano letivo. E colocar nossa energia em ensinar nossos filhos a tentar. Que a cada dia tentem um pouquinho mais. Que entendam o quanto é um privilégio ter atividade, atenção, professora, material, internet, computador tudo isso estando dentro de um lar seguro e confortável. Faz parte do nosso combinado também pedir ao seu filho que todos os dias mostre ou conte um novo aprendizado que ele teve. E só o que ele conseguiu fazer, o que conseguiu aprender. Sim, inverter o foco. Ao invés de ir ao limite pelo que eles não estão fazendo, celebrar e reforçar que busquem algo de bom para contar que aprenderam. E aí é com eles buscar o que contar para os pais.
Acredite, essa mudança de postura da sua parte é capaz de reverter a curva do aprendizado aí dentro da sua casa. E da esperança. E da paz em família. E da força para continuar a nadar!
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