Enquanto o Brasil todo se mobiliza para enviar doações às famílias desabrigadas pela enchente no Rio Grande do Sul e seguimos nos comovendo com histórias de perdas e superações, nossa rotina diária segue sem grandes alterações.
Saímos para o trabalho, literalmente, ou somente trocando de cômodo em nossa própria casa, abrimos o laptop e cumprimos nosso dia a dia. Entre a atualização que fazemos pela manhã e à noite, nas mídias sociais ou pela tv, na torcida para que a água tenha baixado e para que os donativos estejam chegando, seguimos a vida, como se vivêssemos em outro planeta, bem distante de toda a tragédia que segue assombrando a vida de tantos gaúchos.
Quanto mais distantes geograficamente estamos do Rio Grande do Sul, mais alimentamos o sentimento do dever cumprido depois de doar algum item, tenha sido ele comprado por nós, separado dentro de casa ou enviado em forma de participação em vaquinha ou Pix.
Enquanto isso, a vida segue em câmera lenta para aqueles que estão envolvidos diretamente no flagelo que toma conta dos dias e noites de milhares de famílias. O tempo demora mais para passar quando estamos em luto, em meio a uma situação de caos ou sem perspectiva alguma sobre o dia seguinte, a próxima semana, os meses que virão.
A vida segue também no Rio Grande do Sul, para todos. Entre famílias que estão em suas casas, em bairros onde a água não chegou, apesar de estarem em cidades devastadas pela enchente, há aquelas que estão em busca dos seus direitos, porque desejam a vida que tinham antes de tudo isso acontecer. São mães e pais exigindo que a escola receba seus filhos, porque os pais precisam seguir a vida. Escolas essas que não foram atingidas pelas águas, mas que estão sendo usadas como abrigo para famílias que perderam tudo. Algumas pessoas não atingidas diretamente pela água se acham no direito de reivindicar que a escola dos seus filhos siga com o calendário planejado, mesmo que ao redor tantas crianças não tenham o mínimo sinal de quando poderão voltar para casa. Ou se terão uma casa para onde voltar, uma escola para os receber.
Enquanto os pais das crianças desabrigadas amanhecem o dia agradecendo o colchão colocado no chão, ao lado de seus filhos, alguns quarteirões adiante, outros ofendem a diretora da escola que, por algum tempo, se transformou em abrigo que acolhe tantos desabrigados. A complexidade nas relações entre escola e família segue demandando energia, paciência e sabedoria por parte dos profissionais de educação, seja qual for o contexto em que eles estão inseridos.
É a vida que segue, trazendo tantas questões sobre quem somos e do que somos capazes. Sobre o quanto de fato estamos dispostos a doar, quando a doação requer ajustes dentro de casa, na rotina que insistimos em seguir, mesmo quando o mundo que conhecemos ao nosso redor já não existe mais.
A enchente vai passar. As pessoas vão reconstruir suas vidas, apesar das cicatrizes e traumas que levarão. As escolas serão reerguidas. Todas as crianças voltarão a encontrar o ambiente acolhedor que mudará para sempre a história de superação que cada um vai contar no futuro. Infelizmente, porém, o ser humano seguirá surpreendendo, não importa o quanto a informação, o conhecimento, a tecnologia e o mundo evoluam. Essa é a boa e também a má notícia: seres humanos seguirão imprevisíveis, não importa as lições que a natureza tente nos ensinar. Conteúdos novos todos os dias no nosso Instagram e Facebook.
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