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O impacto da mudança na rotina das famílias na relação dos filhos com os estudos

Taís e Roberta Bento

Temos hoje muitas vantagens e comodidades que não existiam durante a nossa infância. Ganhamos acesso a informações que ajudaram a melhorar diversos aspectos da vida que levamos em família. Hoje temos opções mais variadas e podemos personalizar nossos hábitos , de acordo com diferentes gostos e necessidades. Há mais liberdade de escolhas, menos preconceito em áreas que eram restritas de acordo com o sexo, idade e outras características que já não importam tanto, apesar de haver ainda muito pelo que lutar. Nossos filhos podem, desde pequenos, fazer escolhas que nem sequer passavam pela nossa cabeça.

Quantos mitos derrubamos na educação de nossos filhos e o quanto descobrimos ser positiva uma relação mais próxima com as crianças. A tecnologia trouxe possibilidades que nossos pais nunca poderiam imaginar. Apesar de todos esses benefícios da vida moderna, nossos filhos se relacionam com a aprendizagem formal e com os estudos de forma cada vez mais negativa. Estudar é um peso. A lição de casa é um tormento na casa de tantas famílias. A chegada do boletim é motivo de estresse e até depressão entre os alunos e pais. O hábito da leitura é uma espécie em extinção e missão que tortura pais e responsáveis.

Qual a relação entre a mudança na rotina das famílias e o distanciamento entre nossos filhos e o gosto pela aprendizagem? Hoje, vamos resgatar memórias que podem gerar saudades da infância que os pais tiveram e mostrar a relação que tinham com a forma como aprendemos. E vamos dar dicas de como resgatar os benefícios de atividades que desapareceram da rotina em família, mas que podem ser retomadas em uma versão mais moderna. Confira:

Mesmo que vocês sejam pais jovens, ainda pegaram o tempo em que havia uma televisão na sala de casa. E ali todos se reuniam para assistir juntos algum programa. Não era o que vocês assistiam que fazia a diferença. A grande estrela da foto que ilustra este post não é a tv. É família reunida em um mesmo cômodo da casa. Todos olhando na mesma direção, respeitando as diferenças de gosto, focados em um só ponto, gerando assunto para um bom papo. Muitas das habilidades que você desenvolveu vieram de momentos como esse. E muito do sufoco que você passa com seu filho hoje na relação com os estudos vem da falta de oportunidades como as que você teve. Aguentar firme ali, mais pela companhia do que pelo programa, aprender a ouvir, sentar perto de seus pais e até ficar entediado algumas vezes. Precisamos replicar mais essa cena, intercalando o foco de todos na tv pelo que você quiser: pode ser o vídeo game, pode ser netflix, pode ser um livro, pode ser um jogo de tabuleiro, pode ser cada um da família contando seu maior desafio e a melhor parte do seu dia. Pode ser qualquer coisa, desde que o lado de cá esteja presente: os pais, os filhos, os ouvidos, o respeito, a vontade de dividir com a família algum momento depois de um dia corrido. A foto que você fizer da sua sala hoje explica parte da falta de paciência que seu filho tem com os colegas de escola, a baixa capacidade de se concentrar na hora da tarefa, a falta de assunto com vocês na mesa das refeições. Que tal voltar a reunir a família na sala de casa e passar inesquecíveis momentos de tédio junto com seus filhos? Conviver com os colegas da escola e com os professores será bem mais legal quando nossos filhos souberem que o mundo real é este e não aquele ali dos cliques, pausas e fones de ouvido!

Feche os olhos e tente se lembrar de momentos em que você e seus irmãos saiam de carro com seus pais. O que vem na sua memória? Provavelmente a briga para decidir quem ia sentar perto da janela. Ou tinha também uma disputa para sentar bem ali no meio do banco de trás e poder ficar pertinho dos pais, falando, falando, falando. E as músicas no rádio ou no toca fitas, eram as suas preferidas? Não! Eram as músicas que seus pais gostavam, que eles escolhiam e todos ouviam. Mesmo que você ficasse bravo na época, garanto que hoje essa mesma música gera uma saudade gostosa. Todos esses momentos se transformaram em memórias e habilidades que ajudaram você a superar diversos desafios ao longo da sua vida de estudante. As crianças continuam sentando no banco de trás do carro de seus pais. Mas esse momento deixou de ser uma grande aventura em família. A foto de um carro de hoje teria um pai ou mãe estressada, na correria, olhando o Waze ou falando ao celular. O filho, na cadeirinha, geralmente tem um brinquedo para se distrair. Ou, para nosso desespero, um tablet/celular que estão no lugar errado, na hora imprópria! Aproveitar melhor o tempo dentro do carro pode ajudar a resolver problemas como falta de atenção na escola, preguiça na hora da tarefa e dificuldade no relacionamento com os colegas. Rádio ou aplicativos de música: sim, desde que intercalando músicas escolhidas por cada membro da família e nada de fone de ouvido, não importa a idade dos filhos. Tablet e celular, não. Faça a mudança de hábito, apesar das reclamações que possam existir no início. Sempre que estiverem no carro, estejam todos juntos, de corpo e alma. Todas as conversas e descobertas ao longo do trajeto se tornarão recursos que seu filho vai aplicar no aprendizado e relacionamentos sociais ao longo da vida.

Mesmo com toda a evolução da tecnologia e mudanças na estrutura e rotina das famílias, ninguém deixou de se alimentar. E nem os alimentos do dia a dia se transformaram em pílulas, como previram os Jetsons. Então o que faz do hora das refeições um dos “momentos em família que fazem falta nos dias de hoje”? A forma como acontecia. Os benefícios que deixavam. O tempo que tomavam. Em muitos casos, também o alimento que se comia. Durante a refeição, todos falavam, ouviam e até mesmo brigavam. Mas faziam tudo isso olhando um para o outro, sem interferências externas. As famílias eram maiores, a variedade de comida em cada refeição era menor. Ainda assim, sobrevivemos todos. Não se iluda. As crianças mudaram menos do que se pensa. Os pais é que de fato mudaram muito. Pendularam e passaram da disciplina exagerada para a permissividade extrema. Acreditem, pai e mãe, a refeição em família é um dos costumes que mais estão fazendo falta na vida de nossos filhos. Só a refeição e a família, sem nenhum outro elemento. Televisão, celular, tablet só trazem prejuízo nesse momento. O momento da refeição em família, nos moldes da foto deste post, pode ajudar no desenvolvimento de habilidades como paciência, respeito, capacidade de lidar com a frustração, ser um bom ouvinte, foco e concentração. As consequências virão na melhora da atenção na hora da aula, na relação com os colegas de escola e familiares, no respeito por regras de convivência social. Mais que tudo isso, os laços em família são reforçados. Os pais têm a chance de realmente conhecer seus filhos, suas angústias e alegrias, na rotina de jantar em família. Mais seguros e sentindo que têm atenção e amor dentro de casa, nossos filhos estarão mais preparados para navegar pelo mundo virtual sem o perigo de criar com estranhos a relação que não existe dentro de casa!

Que jogos de baralho você conhece? Mesmo que os mais simples, como Mico, Burro, Mau Mau, você deve se lembrar de ter aprendido na infância. E quanto das férias ou finais de semana você e seus irmãos, primos ou amigos passaram sem perceber o tempo correr. Agora a pergunta: que jogos seu filho sabe jogar com baralho? Muitas crianças e adolescentes nem sequer conhecem um baralho. E pode acreditar que grande parte da impaciência, rebeldia e baixa capacidade de lidar com a frustração do seu filho pode ser minimizada com o contato com jogos e brincadeiras desse tipo. Há outros enormes benefícios que se perderam juntamente com os baralhos que sumiram das gavetas de nossos lares! Jogos como baralho e dominó são mais do que lazer. Ajudam a criar o gosto pela matemática, por exemplo! Trazem para dentro de casa, em momentos de diversão, a possibilidade de aplicação de cálculos e raciocínio lógico que hoje parecem ser pura “chatice” da professora. E isso ainda é só a ponta do iceberg de habilidades que seus filhos podem desenvolver com o simples resgate do baralho nos momentos em família. A capacidade de se concentrar durante a aula e na hora da tarefa também receberá o impacto positivo dos benefícios que jogos de dominó, baralho e tabuleiro podem trazer. Concorda que é um “sacrifício” cheio de vantagens para a família toda ensinar seu filho os jogos que você gostava?

Tudo o que nos fez bem durante nossa infância ainda está acessível para que possamos oferecer a nossos filhos. Nenhum dos ambientes desapareceu: a sala, a cozinha, o carro, a tv, o rádio, as cartas de baralho e vários jogos de tabuleiro. Todos se modernizaram e, teoricamente, deveríamos ter mais tempo para dividir com nossas crianças e adolescentes. Aos poucos fomos perdendo a mão e invertendo totalmente a lógica de tudo o que se poderia prever: a tecnologia deveria tornar a vida mais leve. Acabamos, porém, escravos de cliques, toques e telas. Ao invés de aproveitar o melhor de cada época – a que vivemos com nossos pais, do mundo analógico e os recursos da era digital, seguimos agindo como se tivéssemos que fazer uma opção entre os dois mundos. Ao privar nossos filhos de momentos de conexão com a família, abrimos um enorme vácuo que não poderá ser ocupado por tecnologia alguma. E dá-lhe depressão, solidão, ansiedade. Uma criança não tem como decidir entre desligar ou não a tv ou celular durante as refeições, na hora da tarefa ou no momento do passeio de carro. A responsabilidade é dos pais no desafio de trocar frases negativas do tipo: sai desse videogame ou desliga esse celular por convites feitos com a mesma firmeza e segurança que nossos pais nos passavam. A tecnologia não atrapalha, a dose errada é que prejudica. A única maneira de garantir que seu filho fique distante dos riscos do mundo digital é ter doses adequadas de mundo analógico em família! As oportunidades de conexão e aprendizado em família não desapareceram. O que de fato mudou foi a disposição das pessoas em estar juntas, a capacidade de ouvir o outro, a coragem de estabelecer prioridades colocando a família em primeiro lugar!


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