Você está deixando seu passado definir o futuro do seu filho? Sem perceber, agimos com uma premissa inconsciente: “preciso encontrar uma forma de controlar o aprendizado do meu filho, para evitar prejuízos a ele no futuro.”
Logo vem outro susto: não dá para controlar o quanto seu filho aprende. Principalmente se você tentar fazer isso na hora da aula ou da lição. Há outras pessoas e processos envolvidos nessa relação, inclusive seu filho!
Mas até descobrir isso, exigimos da escola mais conteúdo. E aí o filho não dá conta. Brigamos porque a escola está exagerando na quantidade. Depois, achamos que falta a professora ficar o mesmo tempo da aula presencial, só que online com as crianças. E percebemos que as crianças não aguentam essa carga. Melhor só 1 hora para responder dúvidas então. Mas as crianças não querem tirar dúvida. Querem dançar, abrir outros aplicativos, fazer outras coisas. Deve ser a professora não está sabendo prender a atenção dos alunos. Ou outros pais não educam bem seus filhos. Ou meu filho não sabe nada, a escola me enganou esse tempo todo. E assim vamos navegando nas ondas que vêm e vão, buscando fora as respostas para aquilo que só existe dentro de nós.
Nossas angústias são reflexo da experiência que tivemos como filhos e alunos. Sem perceber, estamos usando como base nosso passado, na tentativa inconsciente de mudar nosso presente. Mas esquecemos totalmente das mensagens que estamos implantando na mente de nossos filhos. Não temos como controlar as aulas, o tempo, os outros alunos. Só podemos educar nossos próprios filhos. E assim prepará-los para enfrentarem as lutas que são deles.
Enquanto não tivermos a coragem de enxergar nossos pontos cegos, não vamos conseguir ajudar a preparar nossos filhos para o futuro que eles terão.
Pior do que a certeza de um final indesejado, é a incerteza de como o ano vai terminar.
Não existe a mínima dúvida de que vivemos momentos difíceis, de muita incerteza em relação ao que vai acontecer com o ano letivo de nossos filhos, tenham eles a idade que for. Mas precisamos respirar fundo e aprender a lidar com a ansiedade deste momento tão incerto. Especialmente quando se trata do futuro de nossos filhos. Neste momento, depois de meses na espera de respostas que não vieram, nada mais natural do que estarmos para lá de angustiados. Talvez exista alguma memória escondida por aí de algum momento em que você gostaria que seus pais tivessem tirado de você aquela angústia. Ou, talvez seus pais tenham agido de forma incisa em situações que você fazia parte, mas que não teve tempo para resolver. Ou, quem sabe, está tão tatuada no seu inconsciente a crença dos nossos antepassados de que criança só obedece, os adultos é que agem, que a auto cobrança vem de um lugar ainda desconhecido para você. Aí bate o desespero de ver seu filho nessa situação com os estudos que, pode parecer, um barco sem rumo. E você quer, de qualquer maneira, dar uma direção a essa embarcação. O que seu filho assimila, enquanto isso? A mensagem de que ele gera em você toda essa angústia. De que ele precisaria consertar isso, para que você voltasse ao seu estado de calma. Não, seu filho não sabe que essa mensagem está sendo tatuada na mente dele. Mas a sensação do “não sei como, mas estou falhando e gerando muito transtorno para os adultos que admiro”, essa vai acompanhar seu filho para a vida adulta, como um fantasma. Seu filho só precisa de você indicando o caminho, ajustando a rotina e mostrando o quanto acredita que juntos vocês vão passar por essa fase. As respostas que não existem ainda jamais farão falta para ele!
Foco no que ele vai conseguir assimilar agora. E não importa o quanto ele consiga aprender, isso vai fazer diferença no próximo ano!
Quando acreditamos em algo que ouvimos ou dizemos, transformamos aquilo em realidade. É assim que nossa mente cria as crenças sobre nossa capacidade, nossa coragem, nossa força para persistir. Liberar seu filho para desistir deste ano letivo agora vai trazer primeiro um alívio para vocês. Mas logo passa aquele sabor de começo de férias e vem a sensação de não fazer parte dos problemas e alegrias dos colegas da mesma idade. Vai restar a espera eterna até que o mês de fevereiro chegue, para começar de novo. Lembrando que o importante é assimilar todo o conteúdo. Mas, quem mesmo pode garantir que o próximo ano letivo vai começar em fevereiro? Pode ser que os colegas, ainda em fevereiro estejam fazendo as provas finais, correndo para entregar trabalhos e participar de comemorações de encerramento do ano letivo. Pode ser que eles tenham poucas semanas de férias, que vão amar e curtir loucamente. Enquanto aquela criança que foi “poupada” assistirá a tudo, de longe, sem correr o risco de não aprender. E quando essa criança pensar em comentar com seus pais que gostaria muito de estar entre seus amigos, vai recuar e silenciar. Ela nem vai saber o porquê falta coragem para dizer o quanto desejaria estar passando por tudo aquilo com seus amigos. Mas nós saberemos. Será aquele registro escondido lá no fundo, piscando como um letreiro de neon: “é muito difícil para você, não podemos arriscar que falte algum conteúdo e prejudique os próximos anos”. Antes que essa cena se torne realidade, diga para você mesmo, pai/mãe: eu sou o resultado daquilo que consegui aprender, do que lutei para superar, do que tive a oportunidade de enfrentar. E não vou deixar meu filho achar que ele é o conteúdo que assimila. Ao contrário, ele é a soma dos esforços que faz, das relações que constrói, das frustrações que aprende a enfrentar e do respeito, não do medo, às suas limitações!
Qual é o medo real, aquele que você teme contar para si mesma/o, que gera essa necessidade de tentar resolver agora o que vai acontecer com ano letivo do seu filho?
Lidamos todos os dias com fantasmas que consomem nossos pensamentos. E, depois de nos tornarmos pais, esses fantasmas, além de nos assombrar pessoalmente, cuidam de tentar nos fazer crer que estamos sempre falhando no papel de responsáveis.
Até aqui, acontece mesmo com todos nós e não há como evitar. Mas, cabe a nós pensar muito sobre nossos pensamentos. E tentar descobrir de onde eles vêm, para que possamos lidar com eles. Antes de sair tomando uma atitude quando estiver angustiado, como nesse caso do ano letivo de nossos filhos, é melhor refletir sobre os pensamentos que nos chegam.
Quando preferimos enfrentar a dor de dizer que um filho já pode ser reprovado antes que ele tenha tido a oportunidade de cursar sequer metade do ano letivo, estamos tentando fugir de algo que nos assusta mais do que essa crueldade. Medo de que o filho tente e não consiga? Medo de que ele tenha que enfrentar uma rotina de estudos mais puxada e se recuse a fazer esse esforço? Medo de que ele desista de si mesmo, aí já desistimos por ele? Medo de nós mesmas compararmos nosso filho com o colega da sala que, de repente, volta para a escola sabendo mais que ele?
Seja qual for a resposta, você precisa trabalhar os seus medos, não o ano letivo do seu filho! Do contrário, vai acumular mais alguns fantasmas aí na sua mente e haja terapia para lidar com eles depois.
E, pior, o que ficará registrado na memória mais escondida do seu filho: “ah, que bom meus pais terem evitado que eu tentasse!” ou será que fica um aviso: “sempre que estiver em perigo de não conseguir, evite a tentativa. Considere-se incapaz e repita a dose quando necessário”. Não é isso que você quer para o seu filho! Seja lá o que você tiver passado, já sabe que a intenção dos seus pais foi a melhor. E agora você ganhou uma segunda chance de enfrentar seus medos. Dessa vez, muito bem acompanhado do seu filho!
Pense nesse ano letivo como uma prova de corrida nas Olimpíadas. Imagina se depois de um certo tempo de corrida, todos aqueles que não tiverem ainda terminado fossem colocados de volta na linha de partida. Ou imagina um alto falante anunciando: “atenção, corredores, o Usain Bolt acaba de cruzar a linha de chegada. Vocês todos, podem voltar à linha de partida e começar de novo.” Ou chegam todos juntos com o primeiro lugar, ou vão sendo levados de volta à estaca zero. O orgulho que os pais do Usain Bolt sentem dele não é maior do que o sentimento dos pais de Gabriela Andersen-Schiess.
Nem o respeito que cada um tem por ambos e reconhecimento global por suas conquistas. Hoje sabemos que se a Gabriela não tivesse perdido a última estação de água, ela teria chegado ao final da corrida sem tanto sofrimento. Ainda assim, desistir nunca foi uma opção para ela. Se ainda tão longe da linha de chegada, você percebe que seu filho vai chegar debilitado, ao invés de fazê-lo desistir, que tal garantir que ele tenha os suprimentos que são possíveis de fazer um final melhor para essa corrida? Reflita sobre a crença que limita você e seu filho.
Não é preciso ser o melhor. Não é impossível recuperar o que ficar para trás. Já pensou se na corrida da vida que seu filho vai enfrentar, o principal diferencial para seguir em frente for como ele se reinventou para aprender longe da escola?
Aquilo que ensinaram para nós sobre os melhores alunos da turma não faz mais sentido algum, pai/mãe. Os mais flexíveis serão os adultos mais felizes, capazes de recomeçar muitas vezes ao longo da vida! Se alguém tivesse conseguido convencer a Gabriela Andersen-Schiess de parar, teria tirado dela a possibilidade de conhecer sua própria capacidade de Superação. Pense nisso.
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