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Taís e Roberta Bento

Será que um pai pode influenciar a capacidade de aprendizagem de seu filho?


Será que um pai pode influenciar a capacidade de aprendizagem de seu filho?

A resposta é SIM. Está comprovado que o contexto em que uma criança cresce tem muito mais impacto em sua capacidade de aprendizagem do que a genética. Não, meu pai não teve acesso a esses estudos. A maior parte das descobertas sobre como o cérebro se modifica de acordo com a maneira como a família encara a educação e o ensino ainda nem existiam quando eu era criança. E esse senhorzinho lindo da foto, meu pai, era um pedreiro quando eu nasci – sempre interessado em aprender, em saber o que se passava no mundo, mas sem estudo além do 4o ano primário, como ele sempre disse.

Ter pouco estudo não altera em nada a importância que os pais têm na relação que seus filhos terão com a escola ou com a aprendizagem. O conteúdo acadêmico não é de nem longe o que os filhos precisam que seja oferecido pelos pais. Quer uma prova? Aí está, na foto: meu paizinho lindo, aos 79 anos de idade. Viajei o mundo atrás de pesquisas e fiz inúmeros cursos buscando maneiras para ajudar alunos a terem maior prazer em estudar e aprender. Descobri que a explicação que tanto procurei estava dentro de casa, atrás desses cabelinhos brancos e dessa pele manchada pelo sol escaldante de anos e anos na construção civil.

A dica para conseguir que seus filhos aprendam, apesar de qualquer desafio que tenham que enfrentar, vem da convivência e aprendizado que tive com meu pai. A lição é bem simples – não requer grandes investimentos financeiros ou sofisticação alguma educar filhos. Vai custar seu bem mais precioso, porém: tempo! Tempo, paciência e sabedoria. “E o amor?” você pode estar pensando. Não basta. É pouco. E olhando para todos esses anos de aprendizado com meu pai, concluo que o “amor” virou a desculpa de pais inseguros para justificar o que deixam de fazer: tudo permitem, ao mesmo tempo que não deixam que seus filhos lutem para conquistar seus direitos com a desculpa do “por amor”. Nunca ouvi meu pai justificar atitude alguma, decisão nenhuma com a famosa “é por amor”. Senti a vida toda o amor dele em cada passo – no meu caso, literalmente, em cada passo. Senti o amor dele em cada “eu te amo”. Senti o amor dele todas as vezes que me incentivou a tentar o que hoje, somente hoje, sei que muitos pais com mais juízo e menos sabedoria teriam feito de tudo para evitar, com receio de que eu pudesse me machucar.

E assim, eu aprendi a caminhar – tanto com meus pés quanto com garra e determinação, jogando no lixo cada “não vai conseguir” que me foi atirado. Assim eu acreditei que todos olhavam, como ele dizia, para meu sapato que era lindo, e não para meus passos esquisitos. Assim eu fui fazendo, em cada época diferente da minha vida, tudo aquilo que a medicina e a lógica afirmaram que eu não conseguiria, que não poderia, que não era recomendável. Tenho plena consciência hoje que jamais teria chegado até aqui se não tivesse tentado. E não teria tentado se meu pai não tivesse me mostrado o quanto ele acreditava que eu podia! Por este pai, eu aprendi a dirigir em uma Brasília, e passei mais de 20 anos sem saber que não posso pilotar um carro mecânico. Hoje tenho registrado em minha carteira de motorista duas letras que representam minha deficiência. Mas meu paizinho nem sabe desse registro que meu documento leva. Caso soubesse perguntaria: “que deficiência, quem inventou isso?”

Se alguém perguntar para ele porque eu ando dessa forma, provavelmente a resposta será: “ah, uma paralisia cerebral quando ela nasceu, mas não afetou em nada a vida dela…”

E foi assim que meu pai fez de mim essa maluquinha, sem a menor noção do que não posso e cheia de força para ir atrás e conquistar aquilo que eu desejo!

Olhe de novo para a foto. No seu aniversário de 79 anos, você terá essa feição tranquila, de quem cumpriu com louvor seu papel na capacidade de aprendizagem de seu filho?

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