Muitas certezas estão indo por água abaixo durante esse período em que temos os filhos em casa e a escola tentando se fazer presente. É hora de eliminar pré-conceitos que tínhamos como certeza absoluta.
Quantas certezas construímos em cima de uma realidade que parece definitiva, mas de repente se revela como pura ilusão? Muitas.
O que mais assusta nesse período que estamos vivendo nem é a incerteza do que virá, mas sim ter que admitir a total falta de controle sobre o que parecia dominado. Vivemos tempos em que pouco importa o quanto você domina um assunto. Ou o que sabe sobre seu negócio, seu trabalho ou sobre a vida dos vizinhos. Nenhum conhecimento prévio ou saldo bancário pode livrar você do risco que todos corremos. E não há um país seguro para onde fugir.
O mundo simplesmente mudou todas as perguntas. E as respostas que tínhamos não fazem sentido algum.
Não é ficar em casa que está doendo. É perder a referência do que é seguro, saudável, arriscado ou perigoso. É não ter para onde fugir, não importa quanto dinheiro, passaporte, cidadania ou amigos você tenha. Enquanto o mundo decide quanto tempo teremos que passar fechados em casa, precisamos nos reinventar para que possamos sair de casa mais sábios, mais leves, mais humanos depois desse susto. E nada melhor do que jogar fora pesos que carregamos desnecessariamente e que nenhum benefício trazem para nós mesmos, nossos filhos ou para as pessoas com quem convivemos. Que tal começar repensando algumas certezas que são derrubadas a cada dia em que você olha para seu filho e deseja que ele pudesse estar na escola, junto dos amigos, seguindo tranquilamente seu ano letivo? Quantas certezas nós pais tínhamos sobre a escola, os outros pais, a postura do professor, a rotina que já estava tão coordenada com nossos horários de trabalho…e que talvez já não façam mais sentido.
Vamos juntos, rever algumas posturas, afirmações, certezas que precisam ser deixadas para traz, pelo bem de nossa família e da sociedade em que viveremos depois que tudo isso passar. Partimos derrubar mitos que foram por água abaixo quando nos vimos com filhos em casa e escolas fechadas!
Algumas vezes você sonhou em ter mais tempo para seu filho. Naquele dia em que você deixou seu filho chorando no portão da escola. Depois da reunião em que a professora pediu ajuda porque seu filho não presta atenção na aula. Quando recebeu o boletim e viu o olhar de tristeza ou vergonha do seu filho. Na vez em que sua filha não se importou com a urgência para terminar um trabalho ou estudar para a prova do dia seguinte. Sim, você já passou por todas essas situações e desejou poder ficar com seu filho em tempo integral, na ilusão de que o problema deixaria de existir ou não se repetiria nunca mais. Pensou no quanto aquela mãe que fica em casa é privilegiada por “ter todo o tempo do mundo” para ajudar os filhos com questões da escola. Essa situação tão inusitada nos traz a oportunidade de repensar toda a ilusão que construímos sobre o quanto “ter tempo com os filhos” resolveria os problemas de aprendizagem. Está aí uma situação que é bem mais simples e bonita quando olhada de fora. Cuidar de toda a família cem por cento do tempo não é algo tão simples assim. Não sobra tanto tempo quanto imaginávamos. Os filhos não decidem que vão sentar e fazer a lição, cumprir suas responsabilidades ou sair do tablet/celular/TV com maior facilidade só porque os pais estão por mais tempo com eles. A aprendizagem e a relação com a escola é um desafio maior nos dias atuais. Envolve processos complexos, extremamente desafiadores para todos os pais, não se trabalham fora ou ficam em casa, seja por opção ou por falta dela. Educar cansa, esgota, exige esforço constante e uma rede de apoio. A relação dos filhos com a escola é um desafio para todos os pais. Achar que ficar mais em casa é a solução para que os filhos gostem de estudar é um mito que precisamos deixar esquecido no passado. Assim voltaremos mais leves e capazes de vencer, de mãos dadas, o desafio que vem pela frente!
Ninguém mais discute a importância da integração da tecnologia à educação. Mesmo em regiões e escolas que ainda não têm acesso à Internet ou recursos financeiros para investir em equipamentos, ninguém duvida ou nega o quanto é injusto com os alunos essa realidade. Mas o que importa de fato é como as ferramentas da tecnologia são colocadas a serviço do processo ensino-aprendizagem. Em todos os casos em que a tecnologia gerou melhoria na educação, a diferença não estava nos recursos, mas formação dos professores para a adequada utilização dessa ferramenta. Juntar conteúdo em ritmo frenético e enviar para a casa do aluno não é fazer integração da tecnologia. Manter alunos da educação infantil, outros em fase de alfabetização ou adolescentes sentados em frente a uma tela por horas seguidas definitivamente não é o caminho para conseguir que o aluno se envolva. É distanciar ainda mais nossos estudantes do real papel da escola, do potencial da tecnologia e do prazer em aprender. Nossos filhos não vão estudar mais porque a escola tem tablet para todos os alunos. Ou porque cada membro da família tem um computador em casa. Não, eles não serão mais bem-sucedidos no futuro se passarem 4, 5 horas fechados no quarto em frente a uma telinha, quando há tanto para se aprender com a convivência em família. E não é justo que milhões de alunos pelo Brasil afora ainda não tenham acesso à tecnologia em suas escolas ou lares. O desempenho do nosso país na educação só vai melhorar quando o professor for valorizado pela importância que ele tem e a tecnologia for colocada a serviço da aprendizagem. Vivemos momentos tristes, em que esses dois aspectos fundamentais para educação de qualidade estão totalmente fora dos trilhos. E quando estamos perdidos, desacelerar ajuda a minimizar os riscos e estragos. Que o mito do poder da tecnologia jamais supere a verdade do valor de um professor!
Nenhuma das duas afirmações está incorreta. Realmente nossos filhos têm o comportamento impactado pelos colegas da turma. E, infelizmente, está cada vez mais difícil para o professor conseguir assumir o papel de adulto responsável dentro da sala de aula. Falta formação adequada para entender quem é esse aluno que eles recebem hoje em sala de aula, como o cérebro funciona e reage a diferentes estímulos, como conseguir atenção e foco nos momentos necessários. Pior que tudo isso: pais e professores têm agido como se fossem torcidas de times opostos. Os pais assumem uma postura de constante alerta e ao primeiro sinal de frustração dos filhos, desconfiam que o professor não agiu de forma adequada. O professor, por outro lado, espera que os pais busquem um diagnóstico para justificar e medicar alunos que não param quietos, que desafiam a autoridade e as regras de convivência na escola. Ou quando conversam, família e professor saem da reunião sem a mínima ideia do que fazer com aquele filho/aluno. E agora que estamos com nossos filhos em casa, sem o colega que teoricamente incita o mau comportamento, sem o professor “que não domina a turma” e com a tecnologia que o professor achava que ia envolver o aluno? É o professor que não está sabendo fazer o conteúdo? É o pai/mãe que não está se impondo? Gente, é o aluno que precisa ser o foco! Os alunos estão perdidos, enquanto os adultos responsáveis trocam acusações. Vamos deixar para trás o mito de que qualquer elemento fora da própria criança possa sozinho mudar seu comportamento para melhor ou pior. Precisamos voltar para a escola cientes de que ninguém sozinho – nem pai, nem professor – vai dar conta desse desafio gigante que é ensinar essa nova geração a aprender! Ou pais e professores se unem, ou nossas pobres crianças/adolescentes serão alunos irresponsáveis, jovens depressivos e adultos infelizes!
Assista também:
Meu filho terá prejuízo no ano letivo? Publicado por SOS Educação em Quinta-feira, 16 de abril de 2020
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