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Filhos precisam de alguém para CUIDAR deles, não de alguém para SERVIR a eles!

Estamos errando feio ao definir a função da pessoa que fica com nossos filhos enquanto trabalhamos ou fazemos atividades que não envolvem os filhos. Fazemos uma grande confusão ao deixar o sentimento de culpa por ter que deixar o filho falar mais alto do que a responsabilidade por educar. Na prática, isso acontece quando exigimos ou deixamos que a pessoa que vai ficar com nosso filho passe a servir ao invés de cuidar dele. Cuidar é atentar, ter interesse, zelar, tomar conta. E cuidar envolve dar carinho, atenção, passar sensação de segurança e educar. Tanto uma babá, quanto os avós dividem hoje esse papel com os pais. Nos dois casos, é comum que esse objetivo de “cuidar” acabe sendo substituído pelo “servir”. E aí, não importa a motivação ou intenção do cuidador, a criança ou adolescente acaba tendo sua educação prejudicada. Uma criança que cresce com o pressuposto de que ela deve ter alguém para servi-la tem sérias dificuldades para se adaptar na escola, no relacionamento com os colegas, no respeito a regras de convívio social. Além disso, crescem com auto estima baixa, em geral encoberta por uma grande insegurança disfarçada de carência ou arrogância. Conforme ela cresce, outras pessoas passam a sofrer também as consequências da baixa auto estima que tem uma criança que só aprendeu a esperar que alguém a sirva. Professores, colegas de sala, os próprios pais, avós e cuidador/babá: todos envolvidos em um tsunami de emoções e habilidades que não encontram uma base sólida na qual possam se equilibrar. Ao longo deste texto, vamos falar sobre a diferença entre “cuidar” e “servir” a partir de rotinas que fazem parte do cotidiano de uma família. E vamos juntos fazer o máximo para que seu filho seja muito bem cuidado e que jamais dependa de alguém para servi-lo com a felicidade que só ele mesmo poderá construir!

Seu filho só come se alguém andar com o prato atrás dele/a ou com uma pessoa dando comida boca? Pense friamente: ele foi capaz de estipular essa regra, mas não é capaz de comer sozinho?

A base para o desenvolvimento das tão comentadas e fundamentais habilidades socioemocionais está aí, na hora da comida. “Ah, ela só come se eu der na boca e for andando com o prato por onde ela for!”. Será mesmo? Como uma criança que o responsável diz não ser capaz de sentar e comer a própria comida definiu que ela só vai comer se um adulto ficar correndo com um prato atrás dela? Onde ela aprendeu que essa era uma opção? A resposta é simples: um adulto ensinou a ela. Além de fazer isso, na prática, pense em quantas vezes você contou isso para alguém, com seu filho perto, ouvindo você afirmar que ele só come se alguém for atrás dele com o prato. Essa criança é muito inteligente, esperta e fortíssima candidata a ter sérios problemas de foco, concentração, paciência. A consequência vai eclodir na escola, desde a Educação Infantil e se agravar cada vez até a fase de alfabetização. Cuidar de uma criança é dar a ela oportunidade para desenvolver as habilidades que serão necessárias para vencer desafios da vida real. É demonstrar que acredita na capacidade que ela tem para aprender. É ser persistente até que ela tenha aprendido a comer sentada, à mesa,  segurando a colher com as próprias mãos. Deixar que ela coma enquanto anda, corre, brinca é servir. Dar comida na boca de uma criança que passou dos dois anos de idade é servir. Arrumar as desculpas para fazer as duas anteriores (ele tá chatinho porque tá com virose; temos horário para sair; ela gosta que eu dê na boca…)  é servir. Uma criança que é servida, ao invés de ser cuidada no momento das refeições, não desenvolve habilidades sociomocionais. Além disso, tem menor coordenação motora fina, independência e autonomia – todas estas habilidades essenciais para um relacionamento positivo com a escola, com o processo de aprendizagem e com as pessoas com as quais convive!

Ao se vestir sozinha a criança melhora o nível de auto estima, coordenação motora, paciência, atenção estendida, comunicação oral e consciência de tempo e espaço. Seu filho teve oportunidade hoje para desenvolver essas habilidades?

Ensinar seu filho a se vestir sozinho talvez seja um dos melhores presentes que você pode dar a ele. Seguimos no piloto automático, ou nós mesmos, os pais, vestindo a criança quando que ela já está pronta para fazer isso, ou colocando essa atividade como parte das funções de quem confiamos para cuidar de nosso filho. O resultado é uma criança dependente e insegura. A médio prazo, momentos de estresse na hora da tarefa, da escrita e da leitura que poderiam ser evitados. Sim, isso tem uma relação direta com habilidades que não foram desenvolvidas em rotinas simples como a de aprender a se vestir. Comece deixando que seu filho/a tire a própria roupa com sua ajuda e vá se tornando espectador o quanto antes. Para ensinar seu filho a vestir a roupa, comece devagar, sempre com o final do processo primeiro e aos poucos vá acrescentando os passos anteriores. No caso da calça ou shorts, por exemplo, você coloca até o joelho e ele puxa até a cintura. Aos dois anos a criança já é capaz de fazer isso tranquilamente. Assim que esse passo estiver assimilado, você arruma a calça sobre um tapete, no chão, seu filho “entra” na roupa e sobe até a cintura. Quando tiver dominado esse passo, você entrega para ele já com o lado certo para frente e ele veste sozinho. E finalmente, mostra como encontrar o lado correto para vestir a peça toda sozinho. Pronto para aprender a vestir outra peça do vestuário. Aos cinco anos uma criança é capaz de se vestir sozinha e necessita de pouca ajuda para os processos mais sofisticados como fechar um zíper, abotoar, amarrar um cadarço. Comece sempre nos finais de semana, quando há mais tempo disponível. Nada pode ser mais importante do que educar para que ele sinta orgulho de si mesmo e tenha recursos para enfrentar outros desafios que levarão à autonomia e independência. O papel do adulto não é vestir a criança, mas sim ensinar com paciência e reconhecer o esforço!

Uma criança que não aprende em casa a guardar e organizar seus próprios brinquedos não vai assumir suas responsabilidades como aluno mais tarde! 

 Se é tão mais rápido e menos estressante determinar que alguém vai guardar os brinquedos, porque deixar que seu filho faça isso? Simplesmente porque não é justo com a criança deixar que ela cresça sem desenvolver o senso de responsabilidade. Isso é um exemplo dos mais clássicos sobre como ensinamos a nossas crianças que elas devem esperar que alguém esteja disponível para servi-las. Com a desculpa que damos a nós mesmas de facilitar e agilizar o dia a dia, vamos tirando de nossos filhos a base necessária para que eles amadureçam e tenham um desenvolvimento saudável em todos os aspectos. Ter dó de uma criança que faz manha para não cumprir uma responsabilidade simples como essa é plantar um campo de dificuldades para ela colher sozinha em um futuro muito próximo. Baixa auto estima, baixa capacidade de concentração, baixa tolerância a situações de estresse, baixa criatividade e nenhuma auto confiança. São esses os resultados pelo tempo economizado quando um adulto assume pela criança a responsabilidade de guardar os brinquedos. Mas nunca é tarde para reverter esse quadro. Peça ajuda para seu filho e organize os brinquedos em caixas etiquetadas de acordo com o que ela deve conter. Para crianças ainda não alfabetizadas, a etiqueta pode mostrar a imagem do que vai naquela caixa. As caixas podem ficar em prateleiras baixas, ao alcance da criança ou empilhadas no chão, em algum canto do quarto, em pilhas baixas. Comece guardando junto com seu filho. Vá saindo de cena aos poucos, sem dar tanta importância para reclamações e manhas. Só reconheça o sentimento, “sim, é cansativo mesmo!” ou “é mesmo, às vezes dá uma preguiça”, mas mantenha a responsabilidade sendo da criança. Reconheça com muita energia o esforço colocado assim que seu filho terminar. Isso sim é cuidar, educar, formar um cidadão capaz de construir a vida que sonhar para ele, desde muito, muito cedo!

Se ninguém consegue cumprir as atividades normais do dia a dia enquanto a criança não dorme, está na hora de rever essa rotina. 

Por mais que a intenção seja a melhor, não é justo criar um filho em um mundo irreal e depois querer que ele se ajuste ao mundo real. Dar a uma criança uma vida de rei significa deixar que ela colha depois os frutos dessa educação. Um rei tem pouquíssimos ou nenhum amigo. Um rei tem súditos que o servem por medo e não por respeito. Seu filho vai assumir o papel que os adultos que o cercam derem a ele. Mas só vai encontrar felicidade se for capaz de construir relacionamentos saudáveis, auto estima em bom nível, segurança na própria capacidade de resolver problemas e enfrentar desafios. Como ensinar tudo isso a uma criança? Dando a ela oportunidades de enfrentar desafios menores, dentro da segurança do lar, acompanhada de pessoas que deveriam ser responsáveis por cuidar dela. E não dá para fazer as duas coisas: ou você serve ou você cuida. No amor pela criança é, você encontra a força para o limite que precisa ser estabelecido. Você encontra energia para esconder o sentimento de culpa ou de pena diante de uma situação desafiadora da criança: uma injeção necessária, o remédio que tem gosto ruim, mas cura. Assim são os momentos em que a criança brinca ou cumpre suas responsabilidades enquanto o adulto responsável cumpre as dele. Em alguns momentos, você deve sim deixar a limpeza ou o trabalho de lado por algumas horas para brincar de casinha ou de esconde-esconde. Em outros, seu filho precisa aprender autonomia e independência, com você por perto. Toda criança precisa de um adulto responsável e carinhoso. Nenhuma criança merece súditos que fazem por ela aquilo que ela já está pronta para fazer! Ensinar seu filho a esperar, a respeitar o tempo que você precisa para descansar e fazer suas atividades em casa também é um sinal de amor!

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